ATÉ hoje apenas tinha ouvido rumores, mas agora posso afirmar que afinal é verdade. Os turistas em Macau são tratados pela Polícia como criminosos e, em detrimento do que diz a Lei – que todos somos inocentes até prova em contrário, – é-lhes apontado o dedo, acusando-os de serem os culpados daquilo que lhes acontece em Macau. A história é fácil de contar. Na semana passada recebi um grupo de amigos, proveniente da Tailândia, via Hong Kong. Vierem passar a quinta-feira a Macau, tendo ido do Terminal Marítimo de Passageiros do Porto Exterior directamente para minha casa, sem qualquer incidente, onde deixarem a bagagem. Vieram directamente do aeroporto de Hong Kong, sendo que só no final do dia regressariam – para ficar – na região vizinha. A insistência foi minha para que viessem visitar Macau, dado que, inicialmente, nem queriam vir. Daí sentir-me bastante abalado com o incidente que viria a ocorrer. Indirectamente a culpa foi minha, porque se não tivesse insistido, nada teria acontecido! O grupo chegou a Macau, almoçou comida portuguesa num conhecido restaurante, localizado perto do Largo do Senado – encantado da vida, – visitou a Fortaleza do Monte, as Ruínas de São Paulo, a Sé Catedral e o Templo de Á-Má. Acabou o passeio no Venetian, porque dois, por razões profissionais, queriam ver o maior casino do mundo. No final do dia, passaram por minha casa, para recolher a bagagem; apanharam dois táxis junto da Rua do Campo e dirigiram-se ao Terminal Marítimo. Ali chegados, depararam com a perda de uma das malas no táxi que chegou em último, que trazia a bagageira mal fechada... Argumentando com o taxista, que nem uma palavra de Inglês sabia articular, nada se resolveu, sendo pedida a intervenção da Polícia no «jet-foil». Eu, que fiquei em casa, fui avisado por telefone do que se estava a passar. Tendo conhecimento da Linha Aberta para o Turismo – embora fossem perto das nove horas da noite, – liguei para pedir informações e para ver se tinham algum funcionário no posto do Terminal Marítimo. Depois de mais de vinte minutos ao telefone, chegou-se à conclusão que nada podiam fazer, nem apoio podia ser dado ao grupo de turistas, que se viu involuntariamente metido num problema. Depois de tentar argumentar, desisti porque nada conseguia resolver com a funcionária ao telefone. Diga-se que a conversa foi sempre cordial, se bem que infrutífera. Voltando aos meus amigos: fiquei a saber que o taxista em questão, com um dos passageiros, fez de novo o percurso para ver se conseguiam encontrar a mala perdida. Claro que nada encontraram, passado mais de uma hora do sucedido! Já na esquadra, enquanto se esperava que o taxista voltasse da sua viagem infrutífera, os agentes continuavam a fazer perguntas, num Inglês paupérrimo que mal dava para entender, mas sempre insinuando que a perda da mala não era da responsabilidade do taxista. Mantendo-me sempre ao lado, não interferindo na conversa, visto não ser um dos envolvidos, fui ouvindo o que se ia passando. Com a chegada do taxista – já os meus amigos estavam desesperados para deixarem Macau, pois no grupo de oito pessoas estavam três de idade avançada, que se encontravam extremamente cansadas do dia passado no território – a Polícia continuou a insistir na teoria de que a perda da mala era da responsabilidade dos meus amigos. Segundo o agente, o taxista nenhuma responsabilidade tinha sobre o que transportava no táxi. Ao que lhe perguntei, já não aguentando mais, por que razão o taxista não tinha responsabilidade, se cobra uma taxa pelo transporte de bagagem na mala do carro? O polícia respondeu (rispidamente) que se trata de uma taxa pelo serviço de transporte e que nada tem a ver com a responsabilidade pela perda ou danificação das bagagens. Indignado, ainda perguntei onde tal está regulamentado, tendo ficado sem resposta. Voltando-se novamente para os meus amigos, o agente perguntou se saberiam dizer o valor da mala perdida e se esta tinha algo no interior. Felizmente os haveres eram apenas roupas. Não havia dinheiro, nem artigos de valor no interior, pelo que os meus amigos avançaram com o valor de dois mil dólares de Hong Kong, pela mala Samsonite e pelos haveres, já completamente esgotados e a sentirem-se criminosos, quando na verdade eram eles as vítimas. O taxista, esse, mantinha-se caladinho, até porque tinha a Polícia a interceder por ele. A única vez que esboçou uma reacção aconteceu quando o agente lhe disse que os meus amigos – aconselhado pelo próprio polícia – baixavam a compensação de duas mil para quinhentas patacas. Aí o taxista fez-se ouvir, afirmando que só podia pagar trezentas, porque não tinha mais. Valores à parte, o que aqui está em causa é a atitude do polícia, que assumidamente tomou o partido do taxista, quando deveria ter-se mantido neutro e tentado resolver a questão de outra forma. Deplorável foi também a atitude do taxista que, sendo um elo importante nesta peça teatral, que é o turismo em Macau – o taxista é um dos primeiros actores que o turista vê quando chega e um dos últimos quando parte de viagem, – deveria desempenhar a função com todo o zelo. Infelizmente, todos sabemos que os taxistas, na sua maioria, são pouco profissionais, arrogantes e donos de pouca educação, tratando quem nos visita, e quem aqui vive, como animais, sem desprezo para com a bicharada. O talão de participação (fotografia que acompanha o texto) refere que a mala se extraviou, e o táxi ou taxista não são identificados, quando o mesmo taxista esteve na esquadra e acabou por indemnizar os turistas em trezentas patacas. Além disso, está redigido em Chinês, sendo que nenhum dos queixosos fala esta língua, tendo sido coagidos a assinar sem qualquer explicação. Curiosamente, este grupo, que veio em visita particular, incluiu dois jornalistas – um da televisão e outro de uma revista de viagens da Tailândia. Bonita promoção deverá ter Macau por parte destes meus amigos... Foi um dia triste para o território e para o turismo desta cidade, que se diz internacional. A nível pessoal aprendi a lição: nunca mas convido ninguém para vir a Macau! |
Como blog estaremos aqui para escrever as nossas opiniões, observações e para que quem nos visite deixe também as suas. Tentaremos, dentro das possibilidades, manter este local actualizado com o que vai acontecendo à nossa volta em Macau e um pouco em todo o lado...
segunda-feira, 2 de dezembro de 2013
A tal cidade internacional
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