SÃO sinais contraditórios, ou é apenas minha imaginação, quando ouvimos o Governo dizer que quer promover o uso do Português e dá milhões a associações, muitas delas lideradas por influentes pessoas na sociedade local e ligadas de uma forma, ou de outra, à promoção das lusofonias, e depois fecha escolas que ensinam nas duas línguas oficiais, sem dar grandes satisfações, desde a criação da Região Administrativa Especial.
Como foi feito público, recentemente o Governo decidiu fechar o Jardim de Infância Luso-Chinês, Peónia, um dos dois últimos ainda sob a alçada do Governo. No entanto, poucos dos leitores se devem lembrar que, desde 2003, mandaram encerrar os infantários luso-chineses, Narciso e Sir Robert Ho Tung, Lótus e Tamagni Barbosa. Isto pouca ou nenhuma cobertura recebeu da Comunicação Social do território. Sem que nenhum novo tenha aberto em nome do ensino público gratuito e sob a alçada do Governo.
Quando se fala na gritante falta de vagas no ensino dos mais novos, parece ser um contra-senso mandar encerrar instalações do Governo, quando este mesmo tem obrigação de providenciar lugares para os residentes matricularem os seus filhos em idade de frequentarem os primeiros anos de escola. Quem queira escolher ter os filhos no ensino luso-chinês acaba por não ter opções no público, sendo obrigado a optar pelo ensino privado, com ou sem apoios do Governo. Sendo, literalmente, obrigado pelo Governo a dar dinheiro a privados, quando o mesmo Governo tem obrigação de garantir ensino gratuito e universal aos seus residentes.
Certamente que esta coincidência de acasos é mais falta de coordenação do que concertação, para que o ensino passe todo para mãos de privados. Mas, para quem olha de fora sem ter acesso a muitos pormenores, a sensação que fica é que o Governo nada faz para promover o uso e ensino das línguas oficiais. Apenas se limita a entregar milhões a diversas escolas privadas e associações que foram criadas para o efeito. Isto apesar de andar constantemente a apregoar que há uma sincera aposta no desenvolvimento da divulgação do Português no seio da sociedade local, visto ser também língua oficial.
Não seria obrigação do Governo garantir, pelos seus próprios meios, o ensino gratuito e universal aos residentes nas duas línguas oficiais em todos os anos lectivos e de forma a que houvesse diversas opções e sem que os residentes se vissem obrigados a ter de optar pelo ensino privado, ou semi-privado, subsidiado pelos dinheiros públicos?
A solução de pagar às escolas privadas para fazer o trabalho que devia ser do Governo pode funcionar por agora, porque ainda há dinheiro. No entanto, já se pensou quando o dinheiro acabar? Qual será a formula então para garantir o ensino nas línguas oficiais de forma gratuita aos residentes? Não me parece que quando não houver dinheiro que as escolas privadas estejam interessadas em assegurar esse serviço!
Em Macau estamos a atravessar uma época de desafogo financeiro mas, como em todos os ciclos económicos que os especialistas de Economia têm vindo a explicar, há altos e baixos. Os anos dourados de Macau e da abundância, certamente, não irão durar para sempre. Aliás, convém não ter memória curta e olhar para o inicio do século, aquando do nascimento da RAEM. Nessa altura estávamos a atravessar uma crise que se foi agudizando até meados de 2005. Apenas a partir daqui o ciclo se inverteu e deu origem a esta pujança que agora estamos a viver.
Governar com dinheiro é fácil, o que define os bons governantes é a resposta que conseguem dar em tempos de falta de recursos. Quando em época de «vacas gordas» não conseguem fazer uma política educativa que se consiga sustentar, nem quero imaginar o que se irá passar quando as torneiras dos cofres estiverem secas e houver falta de recursos...
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