Como blog estaremos aqui para escrever as nossas opiniões, observações e para que quem nos visite deixe também as suas. Tentaremos, dentro das possibilidades, manter este local actualizado com o que vai acontecendo à nossa volta em Macau e um pouco em todo o lado...

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Genebra e tradições chinesas?

 
A RECENTE visita de uma delegação de Macau ao Comité dos Direitos Humanos na Suíça deu-me vontade de rir. Não sei se por ter sido apenas a primeira vez desde a criação da Região Administrativa Especial, se pela ingenuidade dos membros do Comité, ou se pela completa falta de respeito da delegação da RAEM que não se dignou a responder a nada do que lhe tinha sido perguntado directamente. Respostas ocas, evasivas e cheias de nada, um estilo que há muito o Governo nos habituou. As respostas foram depois dadas, também algo vazias, por escrito.

As respostas de Macau às perguntas claras e directas do órgão internacional foram sempre cheias de rodeios e nada esclarecedoras. As que alguma coisa diziam apontavam o dedo para Pequim para mais detalhes e responsabilidades. Como quem diz, fugiam com o «rabo à seringa» e escapavam à obrigatoriedade de apresentarem justificações claras e concisas a um órgão a que Macau se obrigou a responder por ter subscrito determinadas convenções internacionais.
Mas, além da falta de respostas do Governo de Macau, gostei também de ver alguns ilustres do território a defenderem a sua «dama» passados alguns dias, quando a Imprensa começou a esmiuçar o que ia chegando da terra dos chocolates. Especialmente um destacado homem das leis, que muito do que tem deve à democracia e aos direitos e regalias que ela lhe trouxe durante a Administração Portuguesa e lhe continua ainda a trazer, que defendeu em afirmações transcritas em alguns jornais locais que, no que diz respeito aos reparos acerca do desleixo da necessidade de se legislar tendo em vista a eleição por sufrágio universal do Chefe do Executivo previsto na Lei Básica, Genebra tem uma visão «preconceituosa e ignorante». Acredito, mas não percebo porquê, pois são críticas proferidas por quem sempre foi um defensor acérrimo da democracia e do sufrágio universal.
Afirmações interessantes proferiu também outro destacado homem ligado às leis e com fortes ligações ao Executivo, defendendo que o facto de Macau assinar um pacto que prevê o sufrágio universal não quer dizer que tenha de o adoptar. Isto dá-nos margem de manobra para da próxima vez que assinarmos um contrato apenas respeitar e honrar as cláusulas que nos forem mais favoráveis, descartando as que não nos interessarem. Se a RAEM apenas faz aquilo que lhe convém no dito pacto internacional, também um simples cidadão pode escolher o que mais lhe interessa. Uma argumentação que gostaria de ver ser usada numa sala de tribunal de Macau mencionando a opinião desse homens das leis.
Mas há ainda outros temas focados pela Comité dos Direitos Humanos que nos enchem de vergonha. Ou talvez não, à luz da tradição chinesa, o argumento usado para tentar explicar a «magnitude dos casos de violência doméstica» que, segundo o Comité, «permanece pouco clara e é lamentável a falta de legislação sobre este caso, bem como os casos de assédio sexual».
Sinceramente, depois de quase duas décadas a viver no meio da cultura chinesa, não tinha conhecimento que é tradição deste povo encher as mulheres de pancada em casa e abusar do sexo oposto. É mesmo caso para dizer que andamos sempre a aprender. A cultura chinesa é mesmo cheia de meandros difíceis de explorar para uma simples mente ocidental. Vou tentar aprofundar este aspecto da cultura chinesa para saber que fundamentos a afirmação pode ter. É que nunca ouvi um colega chinês gabar-se de ter espancado a mulher por deveres tradicionais. Mas, quem sabe, com a timidez que os caracteriza apenas não querem que se saiba cá fora. Francamente, meus senhores!

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