A NOSSA Macau tem muito que aprender com o exterior e precisa de deixar de continuar a olhar apenas para o seu umbigo. E, quando digo exterior, não me refiro à China (continental como lhe chamam, como se houvesse um novo continente que não tenhamos descoberto), a Hong Kong ou à Formosa. Principalmente a classe dirigente deve deixar de pensar e agir com mentalidade de «quero, posso e mando!». A humildade nos líderes é algo de muito importante e só um que seja humilde, mas competente, pode almejar bons resultados e a aceitação da população e dos seus pares, sem ter que se impor pela arrogância. Os bons exemplos existem em toda a parte, mesmo na nossa equipa governativa há alguns exemplos. No entanto, e como regra geral são estes os mais humildes e descomprometidos, não se impõe aqui citar nomes nem ficaria bem. Aliás, quem faz um bom trabalho não o faz com o objectivo de ser enaltecido, fá-lo por ser profissional e comprometido com os cidadãos. Os que aparecem diariamente na luz da ribalta, dizendo mundos e fundos do que fazem a favor da comunidade, não querem mais que publicidade e promoção pessoal. Querem aparecer na fotografia, como se diz de muitos nossos conhecidos. O trabalho dessas pessoas que se esforçam diariamente, sem procurar colher louros, será reconhecido mais tarde pelas gerações vindouras. Essas sim, como sempre acontece, irão fazer jus ao nome de quem, diariamente, trabalhou para que tivessem um futuro digno. Recentemente estive num país dito de terceiro mundo, mas onde a pobreza urbana não existe e onde não há pessoas a dormir na rua ou a pedir esmola a cada esquina. Os próprios vendedores de rua quando recusamos as suas ofertas não insistem e continuam o seu trabalho sem incomodar quem não lhes quer comprar produtos ou serviços. E, para surpresa minha, não é uma ditadura, mas sim uma democracia onde todos os cidadãos conhecem os seus direitos e obrigações. Apesar da crítica social e política, que sempre se impõe numa democracia, a afluência às urnas em altura de eleições é sempre altíssima, sem haver necessidade dos candidatos andarem a oferecer almoços ou outros favores. E, como tive oportunidade de ouvir várias vezes, apesar de haver diferentes partidos, o sistema eleitoral funciona com votos nas pessoas e não nos partidos, o que dá origem a Governos constituídos, na maior parte das vezes, por candidatos de todos os partidos. Desse grupo de pessoas eleitas, é eleito o Presidente e o Primeiro-Ministro. A escolha é feita no Plenário, mas também é dada a oportunidade aos cidadãos de se pronunciarem. Este país tem um dos projectos de protecção de mangais dos mais avançados de que tenho conhecimento. Aquelas plantinhas que se vai destruindo aos poucos em Coloane e que, outrora, cobriam toda a zona do antigo istmo. No local onde passei mais tempo há um mangal de dimensões invejáveis, algo comparável ao que havia entre a Taipa e Coloane antes de nascer o COTAI. Ao contrário de Macau, onde tudo se destrói para «bem da população», naquele país as pessoas, ricas e pobres, vieram à rua quando tiveram conhecimento da existência de planos para construírem um empreendimento turístico no local. Mesmo com a promessa de milhares de empregos e desenvolvimento para a região, e mesmo com casos de políticos comprados com dinheiro dos investidores, fincaram pé e obrigaram o Governo Central e local a mudar de posição, cancelando todas as licenças entretanto já emitidas, e a desistir da construção e da destruição do habitat natural de milhares de espécies. Em resultado deste movimento nasceu um novo departamento a nível regional e nacional dedicado à preservação do mangal, porque as populações acharam por bem que para «bem da população», preferiam preservar o ambiente em detrimento do desenvolvimento desenfreado. Uma boa forma de afirmar «pobres mas saudáveis», como me explicaram. Quem me explicou todo o processo foi um jovem polícia. Ouvi a história, em Espanhol, deste homem de 27 anos, que na altura do movimento tinha pouco mais de 20 e era aluno da Academia Militar. Agora é, além de delegado da Interpol, o responsável máximo na sua província do projecto de protecção do mangal. A conversa com este jovem fez-me lembrar o que se passa em Macau e tudo o que se tem feito para destruir o pouco que ainda existe. Ali não foram feitos quaisquer obras para preservar a natureza. Foi tudo deixando «ao natural» porque, como me explicou, assim tem sido há milhões de anos. Quando são necessárias intervenções humanas para proteger a natureza é porque algo de muito mau já foi feito anteriormente e essas intervenções não fazem mais que adiar um problema sem solução. |
Como blog estaremos aqui para escrever as nossas opiniões, observações e para que quem nos visite deixe também as suas. Tentaremos, dentro das possibilidades, manter este local actualizado com o que vai acontecendo à nossa volta em Macau e um pouco em todo o lado...
sexta-feira, 8 de março de 2013
Podia ser o nosso mangal
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