Censos descriminam
VAI hoje para a rua mais um recenseamento dos residentes de Macau. Uma actividade de grande envergadura que tem em vista recolher informação acerca da composição da população do território e de que se esperam dados importantes para os próximos anos de governação.
Sem querer entrar em detalhes técnicos, aproveito para deixar um reparo quanto ao uso das línguas oficiais por parte do organismo que coordena esta tarefa.
Por esta altura todas as residências de Macau já devem ter recebido, na caixa do correio, um envelope da Direcção dos Serviços de Estatísticas e Censos. Só que, se os moradores não lerem Chinês, têm que ligar para a «linha azul dos Censos» para requererem a versão em Português!
Então, onde está o tratamento em pé de igualdade das línguas oficiais? No dito envelope constam um folheto explicativo e uma circular bilingues, mas o folheto de instruções de preenchimento e o formulário apenas aparecem em Chinês, com uma nota em rodapé (em Português e Inglês) para informar que «Se necessitar do questionário em Português, ligue para a linha azul dos Censos 88098809». O mesmo procedimento deverá ter quem apenas dominar o Inglês.
O meu reparo baseia-se apenas no seguinte: se fazem dois documentos bilingues, porque não fizeram o restante nas duas línguas oficiais? Deixando, claro, a versão inglesa para ser pedida por quem dela necessitar, porque não faz parte do Artigo 9 da Lei Básica.
Deixo uma sugestão, para repor a igualdade de tratamento das duas línguas oficiais: no próximo censo, enviem a informação toda em Português e escrevam uma nota de rodapé a informar os que precisam da versão chinesa, para ligarem para a linha azul!
Lixo mais limpo mas nem sempre
É verdade que nos últimos anos a situação da limpeza da cidade tem melhorado muito e, com isso, também a qualidade de vida da população. Torna-se ainda mais evidente, se tivermos em conta o que acontecia há duas ou três décadas, quando o lixo era pouco tratado e se amontoava nas ruas da cidade à espera de ser recolhido.
Nos últimos anos têm sido introduzidas «salas» de depósito de lixo, que vieram contribuir para a melhoria da salubridade ambiental e que ajudaram a retirar grande parte dos inestéticos e insalubres contentores das ruas de Macau. A solução do recurso a estações de recolha de lixo, longe de ser do agrado de todos, mostra-se como viável e adequada ao território. Há, no entanto, aspectos que a empresa concessionária não pode descurar, quando processam a limpeza dessas estruturas.
Apesar de terem um sistema «automático» de desinfecção por raios ultravioleta (que ainda não percebi como funciona), tem de haver outros cuidados como a lavagem diária e a limpeza interna da estrutura, para que os cheiros não se tornem insuportáveis.
A verdade é que muitas vezes, principalmente em dias de mais calor, o que emana de algumas destas estruturas é de tal forma intenso, que se torna complicado abrir as escotilhas para depositar os sacos do lixo ou mesmo passar nas suas imediações.
A empresa responsável pela recolha do lixo tem procurado manter os locais limpos, mas as intervenções que são feitas para lavar os recintos em nada ajudam a resolver o problema. A lavagem é feita com mangueira e utilizando um produto químico desinfectante. Mas se o interior fica lavado e desinfectado, o mesmo já não se pode dizer da área envolvente, que fica inundada de águas residuais resultantes da mesma limpeza, porque as sarjetas não têm capacidade de captar toda a água suja. Os cheiros e gorduras do interior das estações de recolha ficam no exterior, poluindo e deixando um odor insuportável em dias de calor.
Ao cheiro junta-se ainda o perigo do pavimento escorregadio poder originar quedas aos mais incautos.
Recorrer a estações de recolha é mais eficiente, sem dúvida e, de certa forma, mais higiénico. Contudo, há quem defenda que a sua construção deveria ser feita abaixo do nível da via pública, para evitar os problemas da lavagem e para ser mais agradável à vista de quem passa. Especialistas na área afirmam que seria preferível terem sido construídas estruturas subterrâneas, pois não interfeririam no ambiente visual e passariam despercebidas, tornando a área envolvente mais aprazível e com a possibilidade de ser usada para outros fins, nomeadamente de recreio e descanso da população.
Macau, aliás, tem alguns bons exemplos de aproveitamento de áreas outrora usadas para depósito de lixo. O kartódromo, uma das grandes atracções turísticas do território, é disso um claro exemplo, pois no seu subsolo encontra-se o antigo aterro sanitário.
Relativamente ao processo usado para limpar as estações do lixo, o uso de mangueira e produtos químicos causa problemas acrescidos e deve ser revisto.
Sendo as estações construídas de raiz, seria sensato que contassem com um sistema de drenagem de águas residuais de grande capacidade, para que os funcionários da empresa concessionária, quando procedem à sua lavagem, possam evitar que as águas inundem o exterior. Se o sistema for eficiente, a lavagem pode mesmo ser feita de portas fechadas.
Além disso, seria de todo importante que os mesmos funcionários recebessem formação e ordens claras, tendo em vista uma adequada forma de procedimento na tarefa de limpeza e desinfecção.
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