Galaxy não cumpre
MUITO se tem dito e escrito sobre os trabalhadores que são necessários em Macau e a importação de mão-de-obra do exterior. Nos últimos tempos a Galaxy Resort tem andado nas bocas do mundo, muito por ser, neste momento, o maior investimento ainda em curso no território.
A falta de trabalhadores levou esta empresa a tentar um acordo com as autoridades governamentais, tendo conseguido ver aprovado o rácio de um trabalhador do exterior por cada quatro da RAEM. Por seu lado, o Executivo, através do departamento responsável pela área do trabalho e emprego, assegurou que, caso a empresa não respeitasse estes números, a suas quotas seriam drasticamente reduzidas e aplicada uma multa pelo incumprimento.
Pelo que se deduz dos números, por cada quatro mil residentes contratados, a Galaxy teria carta-branca para recrutar mil ao exterior. Mas – pergunto-me – será que alguém se preocupou em fiscalizar tal medida? Julgo que não! Tanto quanto sei, nunca foi nem está a ser cumprida.
Tomo como exemplo um caso que conheço: um dos investimentos de maior envergadura incluídos no complexo do COTAI. Trata-se de um clube de luxo, propriedade de um famoso «designer» de Hong Kong. Só ali, onde a força laboral é de cerca de meia centena de pessoas, apenas uma mão-cheia são de Macau (residentes permanentes e não permanentes). Toda a equipa gerente é do exterior, nomeadamente de Hong Kong e da Europa. Os restantes membros são do interior da China (a grande maioria) e alguns recrutados nas Filipinas e Taiwan. Além de não cumprirem o rácio de 4 para 1, há até pressões, por parte da equipa gerente e dos membros do interior da China, para o uso do mandarim, em detrimento do cantonense e do inglês.
No seio da equipa há até cidadãos locais que, apesar de experientes na área em que trabalham, quando se trata de escolher nomes para lugares de chefia, acabam sempre por ser preteridos por outros, vindos do continente e sem qualquer tipo de experiência. Situações dessas já levaram a que alguns trabalhadores anunciassem que irão abandonar o projecto, antes de o mesmo abrir as portas ao público em Junho.
Segundo me é dado a saber, a preferência por trabalhadores do interior da China tem mais a ver com o salário que lhes pagam, do que propriamente com a experiência. É que para a mesma posição, se for local, terá de receber quase o dobro. Os que vêm de fora aceitam muito menos e não se importam com a carga horária, visto estarem em Macau sozinhos e sem família, explicaram-nos.
Este é apenas um exemplo da regra que reina neste projecto. A situação não é exclusiva deste departamento, pelo que não se percebe por qual motivo as autoridades continuam a fechar os olhos ou a olhar para o lado, não investigando e apurando a verdade dos números.
Se neste clube, em que a equipa não é das maiores, nem 10% são locais, será fácil perceber que a percentagem de 75% de residentes de Macau, a que todo o «resort» está obrigado, anda muito longe do seu cumprimento.
Aliado ao facto de não cumprirem as directivas de quatro locais para um não local, impera ainda a regra de dar aos de fora os lugares de chefia, causando mal-estar entre a mão-de-obra de Macau, havendo trabalhadores locais com capacidade e experiência suficiente para ocupar essas posições. Aliás, isto era também algo que as autoridades tinham anunciado como sendo uma das medidas a cumprir.
Compreendo que não seja fácil controlar e que o Governo tenha dificuldade em andar a pedir os Bilhetes de Identidade de Residente (BIR) à porta do estaleiro da Galaxy. Porém, a entidade governamental de fiscalização pode exigir que a empresa lhe envie, detalhadamente, os dados de identificação de todos os trabalhadores. Bastaria pedir os dados por sector, para ficarem com uma ideia mais concreta da realidade.
O problema não é exclusivo
Esta situação não se regista apenas na Galaxy. Se nesta empresa os locais perdem os lugares de liderança para pessoas vindas do continente e se o próprio dialecto local é posto em terceiro lugar, é muito provável que o mesmo aconteça noutros empreendimentos.
No «vizinho» Venetian há muito que os trabalhadores se queixam do mesmo. Pelo que sei, aí resignaram-se à realidade porque, segundo afirmam, o Governo não lhes dá qualquer importância e nada faz para resolver o problema. Os casos aqui referidos mostram isso mesmo, ou seja, que os direitos dos locais estão a ser completamente atropelados e se continua a «tapar o sol com uma peneira». Só não vê quem não quer!
É altura de o Governo, através da Direcção dos Assuntos Laborais, ou de qualquer outro departamento, de uma vez por todas, fazer algo de positivo para proteger quem é de Macau e o direito ao emprego condigno.
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