Uma para a DSAT aprender
NA anterior edição, um artigo de um colega nestas páginas falava da organização dos táxis em Kuala Lumpur (Malásia), fazendo uma comparação com a de Macau. Como todos sabemos, o sistema de táxis na RAEM funciona mal, quando funciona! Na Malásia, apesar de também lá haver queixas, do esforço feito pelo Governo e de haver condutores que insistem em fazer ajuste directo da tarifa, o serviço é muito superior ao que temos por aqui. Desde logo, a começar logo pela qualidade dos carros e a proficiência em línguas dos condutores que, no mínimo, dominam três. Sendo as mais usuais o idioma nacional, o Bahasa Malaio, logo seguido do Inglês, que é a língua de trabalho, e do Mandarim (ou Cantonense), que é falado no seio da comunidade chinesa malaia e por muitos não etnicamente chineses.
Quem nos dera, em Macau, que ao menos falassem as duas línguas oficiais! E como sonhar ainda não paga imposto, porque não falarem também Inglês? Eu sei que sou um sonhador incurável! Mas, como não falam, pelo menos que a Direcção dos Serviços de Assuntos de Tráfego (DSAT) nos fornecesse a informação correctamente nas línguas oficiais.
Deixando os táxis de parte, e como também estive recentemente na Malásia, gostaria de aqui abordar um exemplo que serve, mais uma vez, como uma luva para Macau. Vamos em breve passar a uma nova fase do serviço de autocarros públicos com a entrada de mais uma empresa no sistema, pelo que é de todo imperioso que obriguem (todas elas) a cumprir tudo quanto está estipulado no caderno de encargos, principalmente a cláusula que diz ser obrigatório existir informação (sonora e visual) das paragens e trajectos e – também importante – que funcione, pelo menos, nas duas línguas oficiais. Actualmente isso não se verifica. Quem anda de autocarro ouve apenas informação em cantonense e mandarim, estando completamente esquecida a segunda língua oficial. A DSAT parece nada se importar, visto que a situação nunca foi rectificada, mesmo depois de muitas queixas. Dizem ser complicado! Será que é complicado só em Macau? É que noutros locais vimos e ouvimos a informação em mais do que duas línguas em simultâneo e sem qualquer problema. Será que em Macau somos menos inteligentes, ou querem fazer de nós ignorantes?
A cidade de George Town, em Penang, pode comparar-se, visto ser também Património Mundial da UNESCO. No entanto, ao contrário do nosso território, tudo funciona como deve ser e sem sobressaltos de maior (há excepções, como em todo o lado).
Deixem-me tentar explicar o sistema de funcionamento dos autocarros. Tomo por exemplo a carreira 101, que apanhei diversas vezes para me deslocar do hotel para o centro de George Town e vice-versa. É uma carreira circular, começando e terminando na central de autocarros, bem no centro da cidade. Há dois terminais, o Komtar, no centro, e o Jetty, que serve as carreiras mais distantes, funcionando ambos de forma circular. Em cada um deles há quatro linhas identificadas por números de 1 a 4, e que depois se desdobram em diversas carreiras; no meu caso, a 101 seria a primeira da linha 1, havendo também a 102, 103, 104 e 105, pelo que me apercebi. Todas elas têm trajectos diferentes, não havendo muitas sobreposições ao longo do percurso. No caso da 101, no trajecto do hotel para o centro da cidade apenas se sobrepunha à 104 em uma ou duas paragens, antes de entrar no centro histórico, onde não vi nenhum autocarro partilhar nenhuma paragem no trajecto. Isto em muito contribui para que não haja engarrafamentos e para que as pessoas não se amontoem nas paragens, visto que cada uma apenas serve uma carreira.
A tarifa é paga manualmente ao condutor (que domina os nomes dos locais da sua carreira em várias línguas e que está sempre pronto para tentar ajudar quem lhe pede informações). A cada paragem o condutor vai anunciando o nome do local, para que os passageiros saibam onde estão e onde devem sair. Muitas das vezes anuncia também o nome das atracções turísticas e edifícios governamentais na área (por exemplo, o edifício do Parlamento, que fica perto do Forte Cornwallis – o local de chegada do ingleses em Penang, – ou o edifício dos Correios, que fica perto do Church Street Pier).
No interior do autocarro há uns painéis bem claros com o trajecto da carreira em questão indicado por duas linhas rectas, uma para o trajecto de ida, outra para o de volta, referindo todos os locais das paragens. Simples e bem claro.
Em adição a este sistema de transportes públicos pagos, há duas carreiras também circulares dentro do centro histórico de George Town que são gratuitas, funcionando no mesmo esquema das normais, uma com partida e chegada à central Komtar; a outra parte e chega ao terminal Jetty, ambas com paragens fixas ao longo do percurso.
Este modus operandi permite que os turistas (mas também os residentes quem têm de ir ao centro da cidade histórica) não tenham de pagar constantemente para se deslocar entre atracções turísticas, ou entre os dois terminais onde se pode utilizar os autocarros pagos. Este serviço é da responsabilidade do Municipality of Penang e suportado pelas verbas públicas.
Porém, nem tudo é positivo. Como em tudo, os erros dos outros devem servir de exemplo para nós. No que respeita ao civismo dos cidadãos e no respeito por filas de entrada, em Penang parecem sofrer do mesmo problema que em Macau. Raramente respeitam as filas de espera para entrar nos autocarros e, quando estes param, os passageiros atropelam-se uns aos outros para entrar.
Aspectos culturais? Não! Pura e simplesmente falta de educação e sentido cívico pouco desenvolvido, pelo que tive oportunidade de ouvir de vários nativos.
Onde é que eu já ouvi isto?
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