NA última deslocação que o Primeiro-Ministro de Portugal, José Sócrates, fez à Região Administrativa Especial de Macau, alguns dos «importantes» da terra ficaram indignados pelo facto de este não ter dirigido a palavra à comunidade portuguesa.
Pessoalmente, não me interessa nada que o Primeiro-Ministro, seja ele de Portugal, da China ou de qualquer outro país, venha a Macau e nos dirija a palavra (falo como residente). O que me interessa mesmo são actos e acções. De palavras e boas intenções estou cheio e, penso eu, será este o sentimento da maioria da comunidade radicada ou nascida em Macau.
Se Sócrates veio a Macau e não dirigiu a palavra à comunidade portuguesa, deverá ter sido porque não tinha nada de importante para dizer e, quando assim é, mais vale estar calado. De palavras ocas estamos todos fartos, pois sempre que por aqui passa um qualquer dirigente de Lisboa ouvimos um rol de promessas que nunca são cumpridas.
De que serve dirigir a palavra à comunidade se, logo após entrarem no barco para Hong Kong (sim, porque já nem voos de Lisboa para Macau temos), se esquecem de que existe uma comunidade significativa neste território?
Quem aqui vive e tem raízes em Portugal espera mais do Executivo de Lisboa; pelo que me toca, vivo muito bem sem que eles se preocupem. Não me pagam «tachos», nem conto com o Governo de Portugal para a reforma ou qualquer outro tipo de apoio; portanto, se aqui querem vir e não falar, tanto melhor!
Por outro lado, acho de completo mau gosto que um dignitário de Portugal venha a Macau e apenas convide uma parte da comunidade para se encontrar com ele. Se vem em representação do País, deveria «honrar» com um convite ou, no mínimo, com um encontro aberto, todos aqueles que possuem um passaporte de Lisboa. O facto de ter convidado apenas uma «elite» demonstra, de facto, a forma como olham para quem aqui tenta dignificar o nome do País.
Há muito deixei de participar em reuniões que tenham lugar no Bela Vista, pois considero que apenas se realizam para a fotografia e nada mais significam. Há outras formas de mostrar à comunidade de nacionalidade portuguesa (não nos podemos esquecer que são umas centenas de milhar), que Lisboa não os esqueceu.
Relativamente aos encontros no Bela Vista, havia quem os caracterizasse como sendo um óptimo local para beber bom vinho e comer maus aperitivos «à pala»! Como sou mau de estômago, prefiro beber bom vinho em casa e confeccionar os meus aperitivos. Assim poupo nas azias!
Para que Lisboa nos ouça, temos o Consulado Geral de Portugal, cujo trabalho, se exceptuarmos alguns funcionários que deixam nódoa na folha de serviço por serem arrogantes, apresenta um saldo muito positivo. A destacar, sem dúvida, o nosso cônsul, que tem sido hábil nos contactos e tem feito intervenções bem medidas em prol dos portugueses e da presença da cultura portuguesa em Macau.
Também a Casa de Portugal, apesar de ser uma associação particular, tem tudo feito para elevar bem alto a presença lusa nestas terras. As iniciativas estão à vista e são muitas, e quem lidera a associação só não faz mais, porque faltam os meios para isso.
Para além destas duas instituições, não nos podemos esquecer também as de cariz mais local, como a Associação dos Macaenses, a qual, embora direccionada para os «filhos da terra», nunca esquece a sua portugalidade. Isso mesmo o seu presidente, Miguel de Senna Fernandes, faz questão em manter. É o que sucede com a também local APOMAC, mais voltada para os aposentados, mas, apesar de zelar pelos interesses dos seus associados, nunca renunciou às características lusas que a viram nascer.
Por último, não gostaria de deixar passar a oportunidade de referir também a ATFPM, dos funcionários públicos e dirigida por José Pereira Coutinho e Rita Santos. Antes de mais, ela assume-se como uma associação de cariz português, embora a sua mais importante missão seja a defesa dos interesses dos funcionários públicos. Esta deverá ser, sem dúvida, a associação de Macau que mais membros tem com nacionalidade portuguesa, sem esquecer que o seu próprio presidente é também membro do Conselho das Comunidades Portuguesas, em representação de Macau.
Sem querer estar a enumerar todas as associações e clubes de cariz português, penso que estaremos bem representados enquanto comunidade. Pelo que não precisamos que venham de Lisboa dar-nos música…
Que venham e fiquem bem caladinhos! É melhor do que virem e, ao abrirem a boca, acabarem por sair asneiras...
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