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sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Festas com dinheiros públicos

SERÁ que nunca ninguém se interrogou sobre o que fazem as associações de Macau com o dinheiro que o Governo lhes dá todos os anos?
Tenho de confessar que me faz grande confusão que associações sem fins lucrativos organizem jantares e galas para angariação de fundos, quando recebem do Executivo subsídios anualmente. Tais jantares custam, a quem neles participa, centenas de patacas, chegando algumas vezes a atingir um milhar por cabeça.
Penso que as verbas do Governo são, por vezes, distribuídas de forma pouco correcta e que algumas associações acabem por receber menos do que aquilo que precisam, mas, assim sendo, qual a necessidade de organizarem jantares? Porque não pedem mais subsídios à Administração? Estou em crer que, se apresentarem um bom projecto, os vários departamentos governamentais não irão rejeitar conceder mais alguns milhares de patacas. E caso isso não resulte, poderiam fazer peditórios de rua como acontece com muitas outras organizações. Jantares são caros e custam muito dinheiro para servirem como forma de angariação de fundos.
Como cidadão de Macau sinto-me algo desiludido com o facto de haver tantas associações em Macau e que muitas delas só apareçam para organizar os ditos eventos de recolha de fundos ou em tempo de campanhas eleitorais.
Não estou contra a organização deste tipo de jantares, nem de eventos semelhantes. Simplesmente, defendo que, se os querem organizar, o façam sem ter em mente um valor por cabeça. Se é de angariação de fundos, deixem ao critério de cada participante a verba que querem atribuir. Ao colocarem uma etiqueta quanto ao preço na participação, mais parece estarem a vender um produto e não a pedir a ajuda desprendida da população. Pessoalmente, não participo; prefiro fazer donativos directamente à causa em questão, do que dar dinheiro para o hotel ou grupo que organiza a festa. Afinal, trata-se de ajudar quem precisa, e quem nesta situação se encontra não deve ter muitas razões para fazer festas.
Alguém se terá lembrado já de ir ver quanto gasta o Governo anualmente em subsídios e apoios a instituições privadas e semi-privadas? Sendo obrigatório a publicação de todas as contas dos organismos públicos em Boletim Oficial, esses dados ali aparecem. Numa pesquisa do ano passado, referente apenas aos três primeiros trimestres do ano, duas das maiores fontes dessas verbas, a Fundação Macau e o Instituto de Acção Social (IAS), despenderam mais de 770 milhões de patacas!
Não me dei ao trabalho de examinar as verbas totais de todos os outros departamentos que atribuíram subsídios ou apoios, visto serem dezenas deles e milhares os recipientes. Mas, com base nos números que pude ver, será fácil perceber que a verba disponível para os apoios é mais que suficiente para tudo e mais alguma coisa.
Penso que a atribuição dessas verbas não seja a mais razoável, pois nos dois maiores «fornecedores» que observei mais aprofundadamente deparei com algumas injustiças. Não irei referir nomes, para não ferir susceptibilidades, mas é difícil perceber como é que um organismo que luta diariamente para recuperar pessoas para a sociedade receba apenas umas centenas de milhares, enquanto uma associação privada que se dedica à cultura seja subsidiada em mais de seis milhões em apenas nove meses!
Isto para não falar em associações bem mais conhecidas que recebem o grosso do bolo. Por exemplo, algumas ligadas aos operários ou aos moradores recebem aos milhões anualmente para cobrir despesas de funcionamento e para organização de eventos.
Não haverá, certamente, um sistema de distribuição de apoios infalível; mas julgo que o esbanjamento de verbas que se vê em Macau não é saudável para os cofres da RAEM. Uma forma mais ponderada terá de ser encontrada para que os dinheiros cheguem a quem realmente precisa.
Como referia no início, verbas do Governo não devem ser utilizadas para organizar festas ou actividades do género. Tal deve ser auto-financiado pelas próprias associações ou por fundos privados. Será difícil explicar, a quem sobrevive com uma pensão do IAS, que o mesmo instituto atribua centenas de milhares de patacas a uma instituição, para que esta possa pagar os custos de organização de um jantar de angariação de fundos!
Algo vai muito errado nesta sociedade.

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