VAMOS hoje falar de um tema para o qual nunca dei muito do meu tempo, mas que deve merecer toda a nossa atenção como cidadãos de pleno direito. Vamos falar de eleições, da não candidatura do meu amigo Carlos Morais José e de toda a celeuma à volta da sua afirmação, antes de se ver obrigado a desistir, de não abandonar o cargo de director do jornal de que também é proprietário. Como o próprio disse, em resposta às críticas vindas da Associação de Imprensa Portuguesa e Inglesa – que o próprio também ajudou a criar, – seria um absurdo deixar de ser director se é proprietário. No entanto, para que a lista que o acolhera como número três não fosse prejudicada, achou por bem recuar e sair da corrida. Sabe-se agora que para o seu lugar entrou o arquitecto Rui Leão, um digno substituto, diga-se! Concordando-se, ou não, com a posição de Carlos Morais José tomada inicialmente, a verdade é que tinha toda a razão naquilo que dizia. De que serviria suspender a posição de director, se continuaria a ser proprietário? Pessoalmente e tendo como linha de orientação o Código Deontológico que deve reger os jornalistas, Carlos Morais José deveria suspender as funções de director. No entanto, para tal teria também de passar a administração do jornal para uma pessoa independente. Caso não fizesse as duas mudanças, não fazia sentido deixar de ser director do jornal, como é óbvio! Mais: conhecendo-se o meio jornalístico de Macau, de que valia deixar de ser director e administrador do jornal? As influências são mais do que conhecidas, assim como os interesses que cada um dos órgãos defende. Mais importante do que suspender a função de director, seria saber quantos jornalistas de Macau recebem avenças de publicidade e de outros trabalhos que vão contra o Código Deontológico. Quantos dão voz a campanhas na rádio e na televisão e continuam a ostentar a carteira de jornalista. Isto é algo que sempre se fez, mesmo tendo sido várias vezes exposto ao Sindicato dos Jornalistas em Portugal. É algo que apenas mudará com a consciência das pessoas. Vai de cada um entregar, ou suspender, a carteira profissional sempre que tenha de fazer uma tarefa que vá contra o Código Deontológico. Num meio como o de Macau pedir a Carlos Morais José que suspenda as funções de director do jornal, apenas porque se candidata às eleições legislativas, é algo que não faz muito sentido, principalmente quando há exemplos de outros candidatos com posições mais influentes que a dele – e com poder de fazer mais danos sociais que um simples jornal – e que nada lhes é apontado. É verdade que, como jornalista, a sua consciência deveria apontar para a suspensão das funções, mas sendo Macau o meio que é e tendo em atenção as especificidades do território, penso que não se justifica que Carlos Morais José tivesse de optar por essa via. Como se costuma dizer, não será por aí que «o gato irá às filhoses». Sendo uma pessoa ponderada e que segue as regras, optou por desistir para não prejudicar a «sua» lista, para muita pena minha. Aliás, ao optar por permanecer como director e dono do jornal, apenas o iria expor mais ainda ao escrutínio da opinião pública, pelo que, em certos aspectos, até poderia prejudicar a candidatura. Quanto às acusações, ou insinuações que foram feitas de que podia usar o jornal como meio de promover a candidatura em detrimento de outras, não acredito que tal viesse a fazer. Conhecendo a pessoa há muitos anos não penso que colocasse em causa a independência do jornal e da sua pessoa só por causa da candidatura ao hemiciclo dos Lagos Nan Van. Carlos Morais José é maior do que isso e sabe muito bem em que águas se move. Razão pela qual deve ter desistido. Quando os seus pares lhe pediram, em carta pública, que deixasse as funções de director foi o mesmo que pedirem a Melinda Chan que largue, momentaneamente, as posições que possui nas empresas do marido, ou que Pereira Coutinho deixe de ser presidente da ATFPM, ou que Angela Leong deixe os seus cargos no império de Stanley Ho. Tudo o que se pede a todos os candidatos é que sejam íntegros e que respeitem as leis do jogo eleitoral. Quanto ao director do Hoje Macau, tiro-lhe o chapéu por ter tido coragem e rectidão de voltar atrás com a candidatura. No entanto, fico desapontado, pois acredito que saberia manter a independência e que obrigaria o jornal e os seus jornalistas a manterem o rigoroso respeito da deontologia da profissão durante todo o processo eleitoral. Quem ficou a perder fomos todos nós! |
Como blog estaremos aqui para escrever as nossas opiniões, observações e para que quem nos visite deixe também as suas. Tentaremos, dentro das possibilidades, manter este local actualizado com o que vai acontecendo à nossa volta em Macau e um pouco em todo o lado...
segunda-feira, 1 de julho de 2013
O que conta é a independência
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