Como blog estaremos aqui para escrever as nossas opiniões, observações e para que quem nos visite deixe também as suas. Tentaremos, dentro das possibilidades, manter este local actualizado com o que vai acontecendo à nossa volta em Macau e um pouco em todo o lado...

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Prioridades governativas

O QUE dizer de um governo que, para assinalar uma efeméride, se dá ao luxo de gastar 32 milhões de patacas, quando dentro de portas da área que governa existem pessoas a passar dificuldades? Soa a um tipo de gestão de um qualquer Estado déspota que, perante as dificuldades da população, nada mais vê do que a necessidade de se auto-promover e satisfazer o seu ego e os caprichos dos seus acólitos.
Recentemente veio a público a notícia de que foram apreendidos dois iates de luxo que, alegadamente, tinham como destino os «gestores» da Coreia do Norte, país onde a população passa fome, mas não deixa de haver dinheiro para armamento balístico e, talvez mesmo, nuclear, assim como para artigos de luxo dos mais caros do mundo. Aqui em Macau, onde alguns desses dirigentes têm ligações, os ordenados dos funcionários públicos continuam a não fazer face à inflação e a não acompanhar o crescente custo de vida (a não ser os das chefias, claro!). No entanto, gastam-se milhões para assinalar os dez anos de Região Administrativa Especial na capital. Trinta e dois milhões de patacas é o cheque que o Governo meteu de lado para se promover em Pequim e assinalar a efeméride da primeira dezena de anos. Verba que vai servir para pagar a renda do local, a coordenação global, os equipamentos de produção e a utilização de meios multimédia, montagem e gestão, divulgação e promoção da exposição, de acordo com uma nota oficial.
A título de exemplo, esta verba equivale ao dobro daquilo que se gastou (e que na altura também foi considerado um esbanjamento de verbas públicas) aquando da passagem da tocha Olímpica por Macau. Trinta e dois milhões de patacas seriam suficientes para manter o Banco Alimentar (recentemente instituído e bem mais necessário do que auto-promoção) durante três anos, ou para suportar o Plano de Apoio ao Turismo e Lazer (plano que está a ser promovido como estratégico para a sobrevivência de Macau, face à crise mundial).
É tudo uma questão de prioridades e, – porque não dizê-lo? – até de bom senso e de boa visão e consciência das necessidades da população local mais necessitada. Há quem considere que uma exposição a mostrar o que foi feito durante estes dez anos que passaram seja mais importante do que fazer com que os residentes não passem dificuldades. Ou que seja mais importante do que dar serviços de saúde de qualidade aos mais necessitados, ou promover o ensino das duas línguas oficiais junto de todos os residentes.
Apesar de todas as críticas que possam ser feitas às «opções», o mais alarmante é a forma de como foi feita a escolha. Apesar do Governo dizer que tudo foi feito dentro da legalidade, a verdade é que «à mulher de César não basta sê-lo, tem de o parecer». Este dito popular assenta que nem uma luva neste caso, apesar de dizerem que a decisão é honesta. Só que os factos parecem apontar para outras evidências.
Por muito que afirmem a pés juntos que o processo é legal, a verdade é que a empresa escolhida é de uma adjunta de Fernando Chui Sai On. Mais em concreto (porque nestes casos convém conhecer os nomes envolvidos) de Eva Lou, coordenadora-adjunta do gabinete de candidatura de Fernando Chui Sai On a Chefe do Executivo e que, sem surpresa nenhuma, poderá vir a ocupar um lugar no próximo Executivo ou, na pior das hipóteses, continuar a manter uma relação profissional privilegiada com o Governo.
Mais: o processo foi decidido sem concurso público e durante o período em que Chui Sai On ainda era o tutelar da Cultura e, segundo o que todas as partes afirmam, antes de ter tomado rédeas da organização das comemorações. Aspecto este que levanta outro senão, ou seja, a razão pela qual se começou a discutir a adjudicação antes dele tomar posse e só se tomou a decisão depois dele já estar a tomar as decisões importantes.
Não estamos a insinuar que tenha havido favorecimento ou abuso de poder. Estamos simplesmente a apontar factos conhecidos que são susceptíveis de muitas interpretações duvidosas e pouco ou nada abonatórias para o novo Chefe do Executivo.
Como se tudo isto não bastasse, fica-se agora a saber que, afinal, a empresa de Eva Lou ganhou não uma, mas duas adjudicações milionárias do Governo. A juntar às comemorações dos dez anos, junta-se a dos 60 anos da República Popular da China!
A novela está ainda no início, mas parece ir dar muito que falar.
Apetece mesmo dizer que ainda não começou o reinado, já a manta vai rota… O que nos estará reservado nos próximos cinco anos!!!…

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