Como blog estaremos aqui para escrever as nossas opiniões, observações e para que quem nos visite deixe também as suas. Tentaremos, dentro das possibilidades, manter este local actualizado com o que vai acontecendo à nossa volta em Macau e um pouco em todo o lado...

sexta-feira, 12 de julho de 2013

O que fazer sem dinheiro?

SÃO sinais contraditórios, ou é apenas minha imaginação, quando ouvimos o Governo dizer que quer promover o uso do Português e dá milhões a associações, muitas delas lideradas por influentes pessoas na sociedade local e ligadas de uma forma, ou de outra, à promoção das lusofonias, e depois fecha escolas que ensinam nas duas línguas oficiais, sem dar grandes satisfações, desde a criação da Região Administrativa Especial.

Como foi feito público, recentemente o Governo decidiu fechar o Jardim de Infância Luso-Chinês, Peónia, um dos dois últimos ainda sob a alçada do Governo. No entanto, poucos dos leitores se devem lembrar que, desde 2003, mandaram encerrar os infantários luso-chineses, Narciso e Sir Robert Ho Tung, Lótus e Tamagni Barbosa. Isto pouca ou nenhuma cobertura recebeu da Comunicação Social do território. Sem que nenhum novo tenha aberto em nome do ensino público gratuito e sob a alçada do Governo.

Quando se fala na gritante falta de vagas no ensino dos mais novos, parece ser um contra-senso mandar encerrar instalações do Governo, quando este mesmo tem obrigação de providenciar lugares para os residentes matricularem os seus filhos em idade de frequentarem os primeiros anos de escola. Quem queira escolher ter os filhos no ensino luso-chinês acaba por não ter opções no público, sendo obrigado a optar pelo ensino privado, com ou sem apoios do Governo. Sendo, literalmente, obrigado pelo Governo a dar dinheiro a privados, quando o mesmo Governo tem obrigação de garantir ensino gratuito e universal aos seus residentes.

Certamente que esta coincidência de acasos é mais falta de coordenação do que concertação, para que o ensino passe todo para mãos de privados. Mas, para quem olha de fora sem ter acesso a muitos pormenores, a sensação que fica é que o Governo nada faz para promover o uso e ensino das línguas oficiais. Apenas se limita a entregar milhões a diversas escolas privadas e associações que foram criadas para o efeito. Isto apesar de andar constantemente a apregoar que há uma sincera aposta no desenvolvimento da divulgação do Português no seio da sociedade local, visto ser também língua oficial.

Não seria obrigação do Governo garantir, pelos seus próprios meios, o ensino gratuito e universal aos residentes nas duas línguas oficiais em todos os anos lectivos e de forma a que houvesse diversas opções e sem que os residentes se vissem obrigados a ter de optar pelo ensino privado, ou semi-privado, subsidiado pelos dinheiros públicos?

A solução de pagar às escolas privadas para fazer o trabalho que devia ser do Governo pode funcionar por agora, porque ainda há dinheiro. No entanto, já se pensou quando o dinheiro acabar? Qual será a formula então para garantir o ensino nas línguas oficiais de forma gratuita aos residentes? Não me parece que quando não houver dinheiro que as escolas privadas estejam interessadas em assegurar esse serviço!

Em Macau estamos a atravessar uma época de desafogo financeiro mas, como em todos os ciclos económicos que os especialistas de Economia têm vindo a explicar, há altos e baixos. Os anos dourados de Macau e da abundância, certamente, não irão durar para sempre. Aliás, convém não ter memória curta e olhar para o inicio do século, aquando do nascimento da RAEM. Nessa altura estávamos a atravessar uma crise que se foi agudizando até meados de 2005. Apenas a partir daqui o ciclo se inverteu e deu origem a esta pujança que agora estamos a viver.

Governar com dinheiro é fácil, o que define os bons governantes é a resposta que conseguem dar em tempos de falta de recursos. Quando em época de «vacas gordas» não conseguem fazer uma política educativa que se consiga sustentar, nem quero imaginar o que se irá passar quando as torneiras dos cofres estiverem secas e houver falta de recursos...

terça-feira, 9 de julho de 2013

Presidente e consultor

 mesmo em Macau é que não nos admiramos que haja pessoas que se apresentam como presidentes de associações de protecção ambiental e que, ao mesmo tempo, são proprietárias de empresas de consultoria na mesma área de actividade e de interesses.

O caso de Ho Wai Tim, que todos conhecemos como «acérrimo» defensor das causas ambientais de Macau, desde mangais a garças, é disso um fiel espelho. É que o senhor, além de apologista de tudo quanto é verde e de cariz ambiental, parece que também dá pareceres a empresas envolvidas em projectos que necessitam de estudos de impacto ambiental, alguns deles polémicos. Assim como também se envolve em casos polémicos que nada têm a ver com ambiente, como foi o caso da iniciativa que apelava à demolição do Clube Militar.
O caso que veio a público no campo ambiental é o famoso empreendimento que envolve a Casamata Portuguesa, ali à entrada da Vila de Coloane. 
Segundo o estudo do «ambientalista» – encomendado pelo dono da obra, – afinal o impacto não é assim tão grande e até apontou, numa das últimas edições do programa de rádio «Fórum Macau», o dedo a empreendimentos do Governo (como o túnel de Ká-Hó) de atentarem mais contra o ambiente do que a obra do seu «cliente». Pudera! Os cifrões nesta terra contam muito e fazem-nos mudar de opinião rapidamente.
Quando foi confrontado com a incompatibilidade da presidência da Associação Ecológica de Macau e a propriedade de várias empresas de consultoria ligadas ao ramo da protecção ambiental e, mais em concreto, relativamente ao caso da obra em Coloane, Ho Wai Tim foi rápido a «sacudir a água do capote», dizendo que não fala de assuntos pessoais, muito menos de assuntos que envolvem as suas empresas. Deve ser um pouco difícil de explicar, não é?
Os seus pares na defesa da ecologia não estão pelos ajustes e não se coíbem de tecer largas críticas ao facto de ser ele o responsável pelas empresas que realizaram os estudos de impacto ambiental do caso em questão. Indo mesmo mais longe e tecendo críticas à absurda proposta que fez para contrabalançar a perda de património que a obra pode vir a representar. Segundo afirmações suas, no dito fórum da Rádio Macau, o projecto à entrada em Coloane, de acordo com o seu estudo de impacto ambiental, podem vir a causar danos na colina mas, no entanto, garante que os empresários responsáveis pelo investimento se comprometem a construir jardins suspensos – tal Babilónia em Macau, digo eu, – para compensar a perda do ambiente natural.
Ah, pois... acaba-se com aquilo que a natureza levou milhares de anos a construir para nos enfiarem com uns vasos e canteiros suspensos, vá-se lá saber com quê e para quê!? Uma solução Babilónica à Macau, é o que me apetece dizer, visto que, para o «especialista/presidente/consultor», até irá aumentar a percentagem da cobertura verde em Coloane.
Mas de nada nos surpreende, visto que tal é feito amiúde nesta terra. Veja-se o que se fez no COTAI, onde antes era água e habitat de tantas espécies animais. Aterrou-se tudo, fizeram-se grandes obras babilónicas, criaram-se jardins interiores e até canais com gôndolas. Metro por metro, possivelmente até temos agora mais área verde mas, com tanto artificialismo, será que é mesmo igual? Será que temos de nos contentar com «natureza» artificial, quando ainda temos alguma natural que deve ser preservada a todo o custo?
Ou será que o dinheiro em Macau vai continuar a falar mais alto e a ditar as regras de todo o jogo, sem que a restante população seja tida ou achada?
Devemos olhar um pouco para fora, e com as devidas distâncias, tirar alguns ensinamentos das manifestações que vão ocorrendo um pouco por todo o mundo. Em Macau vivemos uma época de abastança, em contraponto à economia mundial, mas tal não deve servir de desculpa para que deixemos os senhores do dinheiro fazer tudo o que querem.
Macau precisa de uma sociedade crítica e participativa. Que venha para a rua, que faça barulho e que exija que os seus direitos e qualidade de vida sejam mantidos. Vir para a rua pedir demissões ou mais apartamentos pode ser um passo, mas não pode ficar por aí. É preciso ter consciência que a qualidade de vida passa, e tem sempre de passar, por haver natureza e locais onde as nossas crianças possam respirar ar puro.

NaE's kitchen A Cozinha da NaE

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