Como blog estaremos aqui para escrever as nossas opiniões, observações e para que quem nos visite deixe também as suas. Tentaremos, dentro das possibilidades, manter este local actualizado com o que vai acontecendo à nossa volta em Macau e um pouco em todo o lado...

terça-feira, 9 de julho de 2013

Presidente e consultor

 mesmo em Macau é que não nos admiramos que haja pessoas que se apresentam como presidentes de associações de protecção ambiental e que, ao mesmo tempo, são proprietárias de empresas de consultoria na mesma área de actividade e de interesses.

O caso de Ho Wai Tim, que todos conhecemos como «acérrimo» defensor das causas ambientais de Macau, desde mangais a garças, é disso um fiel espelho. É que o senhor, além de apologista de tudo quanto é verde e de cariz ambiental, parece que também dá pareceres a empresas envolvidas em projectos que necessitam de estudos de impacto ambiental, alguns deles polémicos. Assim como também se envolve em casos polémicos que nada têm a ver com ambiente, como foi o caso da iniciativa que apelava à demolição do Clube Militar.
O caso que veio a público no campo ambiental é o famoso empreendimento que envolve a Casamata Portuguesa, ali à entrada da Vila de Coloane. 
Segundo o estudo do «ambientalista» – encomendado pelo dono da obra, – afinal o impacto não é assim tão grande e até apontou, numa das últimas edições do programa de rádio «Fórum Macau», o dedo a empreendimentos do Governo (como o túnel de Ká-Hó) de atentarem mais contra o ambiente do que a obra do seu «cliente». Pudera! Os cifrões nesta terra contam muito e fazem-nos mudar de opinião rapidamente.
Quando foi confrontado com a incompatibilidade da presidência da Associação Ecológica de Macau e a propriedade de várias empresas de consultoria ligadas ao ramo da protecção ambiental e, mais em concreto, relativamente ao caso da obra em Coloane, Ho Wai Tim foi rápido a «sacudir a água do capote», dizendo que não fala de assuntos pessoais, muito menos de assuntos que envolvem as suas empresas. Deve ser um pouco difícil de explicar, não é?
Os seus pares na defesa da ecologia não estão pelos ajustes e não se coíbem de tecer largas críticas ao facto de ser ele o responsável pelas empresas que realizaram os estudos de impacto ambiental do caso em questão. Indo mesmo mais longe e tecendo críticas à absurda proposta que fez para contrabalançar a perda de património que a obra pode vir a representar. Segundo afirmações suas, no dito fórum da Rádio Macau, o projecto à entrada em Coloane, de acordo com o seu estudo de impacto ambiental, podem vir a causar danos na colina mas, no entanto, garante que os empresários responsáveis pelo investimento se comprometem a construir jardins suspensos – tal Babilónia em Macau, digo eu, – para compensar a perda do ambiente natural.
Ah, pois... acaba-se com aquilo que a natureza levou milhares de anos a construir para nos enfiarem com uns vasos e canteiros suspensos, vá-se lá saber com quê e para quê!? Uma solução Babilónica à Macau, é o que me apetece dizer, visto que, para o «especialista/presidente/consultor», até irá aumentar a percentagem da cobertura verde em Coloane.
Mas de nada nos surpreende, visto que tal é feito amiúde nesta terra. Veja-se o que se fez no COTAI, onde antes era água e habitat de tantas espécies animais. Aterrou-se tudo, fizeram-se grandes obras babilónicas, criaram-se jardins interiores e até canais com gôndolas. Metro por metro, possivelmente até temos agora mais área verde mas, com tanto artificialismo, será que é mesmo igual? Será que temos de nos contentar com «natureza» artificial, quando ainda temos alguma natural que deve ser preservada a todo o custo?
Ou será que o dinheiro em Macau vai continuar a falar mais alto e a ditar as regras de todo o jogo, sem que a restante população seja tida ou achada?
Devemos olhar um pouco para fora, e com as devidas distâncias, tirar alguns ensinamentos das manifestações que vão ocorrendo um pouco por todo o mundo. Em Macau vivemos uma época de abastança, em contraponto à economia mundial, mas tal não deve servir de desculpa para que deixemos os senhores do dinheiro fazer tudo o que querem.
Macau precisa de uma sociedade crítica e participativa. Que venha para a rua, que faça barulho e que exija que os seus direitos e qualidade de vida sejam mantidos. Vir para a rua pedir demissões ou mais apartamentos pode ser um passo, mas não pode ficar por aí. É preciso ter consciência que a qualidade de vida passa, e tem sempre de passar, por haver natureza e locais onde as nossas crianças possam respirar ar puro.

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