Como blog estaremos aqui para escrever as nossas opiniões, observações e para que quem nos visite deixe também as suas. Tentaremos, dentro das possibilidades, manter este local actualizado com o que vai acontecendo à nossa volta em Macau e um pouco em todo o lado...

domingo, 6 de março de 2011

O CLARIM - Semanário Católico de Macau

Condutores têm de ser locais

capa_lrg ESTA coluna corre o risco de começar a parecer uma perseguição aos serviços de autocarros! Garanto, porém, que longe de mim está tal ideia. Quanto muito será um espaço de crítica, tendo em vista a melhoria do serviço a que todos temos direito.

Na semana passada falava dos autocarros. Nesta edição vou voltar ao mesmo tema, por ter lido um artigo na imprensa diária que nos dava conta da preocupação da nova operadora na contratação de condutores locais. E, logo no dia seguinte, a autoridade competente a vir dizer que há em Macau condutores suficientes. A companhia, perante as dificuldades, avançava com a solução de se contratarem no Continente.

Como todos sabemos, a qualidade dos condutores locais de autocarros (e de táxis também) é do pior que há. Julgo mesmo que, se fossem obrigados a fazer um curso de reciclagem anualmente, muitos deles reprovariam nas provas.

Virem com a ideia de ir recrutar ainda mais condutores ao interior da China é algo pouco sensato. Primeiro, os condutores do lado de lá das Portas do Cerco têm um comportamento na estrada completamente diferente daquele que se quer em na RAEM; segundo, a qualidade dos condutores, a aferir pela forma como são feitos os exames de condução (prática e teoria) no Continente, deixa muito a desejar em termos do «standard» internacional, aliás, a carta de condução da China não é reconhecida internacionalmente, ao contrário da de Macau; terceiro, os condutores do Continente não conhecem Macau, pelo que poderia ser contraproducente pô-los a conduzir um veículo cheio de pessoas.

Admito que haja falta de profissionais do volante e creio bem que se torne difícil às empresas encontrar condutores. No entanto, a solução de os ir buscar ao outro lado não me parece acertada.

Antes de mais, é preciso cumprir os regulamentos e nivelar a qualidade por patamares superiores. O nivelamento por baixo dá sempre maus resultados.

Quando os responsáveis das empresas concessionárias dizem que não há mão-de-obra local, o problema deve ser resolvido internamente. E, para que se resolva, há preceitos que têm de ser preenchidos. Para começar, torna-se necessário oferecer uma carreira condigna e com salários ao nível da exigência da profissão. Se os condutores tiverem um salário e regalias atraentes, não haverá falta de interessados em tirar a carta de condução profissional para trabalhar como condutores de autocarro. Perante a urgência da contratação, a medida mais acertada será o Governo anunciar cursos de reciclagem de condutores, em tempo recorde, para que se possam preparar, em pouco tempo, 100 ou 200 condutores, de modo a poderem colmatar as necessidades das três empresas. Não havendo cidadãos locais (residentes permanentes) interessados, poder-se-ia, eventualmente, dar a possibilidade a residentes não permanentes. Neste caso, porém, com a obrigatoriedade de terem de ficar ligados à empresa por um período mínimo de tempo (alguns anos, talvez) e sem possibilidade de trabalharem noutro local. Uma simples aplicação das leis laborais já em vigor.

Urge em Macau optar-se por formação de qualidade. O recurso, sempre que nos sentimos apertados, ao mercado da mão-de-obra do Continente, não serve os nossos intentos. A qualidade que vem do outro lado raramente chega aos patamares pretendidos. Daí que, quem fica a perder somos todos nós e quem nos visita. Macau tem de marcar a diferença, pela positiva e não pela negativa, como tem sido nota dominante até agora.

Esta nova etapa dos serviços públicos de autocarros no território é uma boa oportunidade para a Direcção dos Assuntos de Tráfego, conhecedora das reduzidas dimensões de Macau, fazer uma análise profunda e abrangente da realidade local, programar e executar da melhor forma as decisões que vier a tomar, tendo sempre em vista oferecer ao cidadão comum um serviço de transporte público deveras eficiente. Se tivermos um serviço de autocarros de qualidade, em que os condutores além de conhecerem o terreno revelam boa condução e boa educação, os utentes certamente irão optar mais vezes por os utilizar e os turistas sairão daqui com uma melhor imagem.

O panorama actual é assustador. Só quem não usa os transportes públicos é que não sabe a aventura que é andar dentro de um autocarro em Macau com as travagens bruscas, corridas de paragem a paragem, além de manobras que metem em perigo os passageiros e quem circula na via pública.

Por sorte, ao longo dos anos, os incidentes têm sido poucos. Será necessário que aconteça uma tragédia para que os responsáveis acordem?

Um bom serviço de autocarros tem de passar, primeira e necessariamente, pela boa qualidade dos veículos e segurança dos mesmos; mas, também, pela formação dos condutores e, ainda, pela informação acessível a todos e de forma correcta.

O CLARIM - Semanário Católico de Macau

Uma para a DSAT aprender

capa_lrg NA anterior edição, um artigo de um colega nestas páginas falava da organização dos táxis em Kuala Lumpur (Malásia), fazendo uma comparação com a de Macau. Como todos sabemos, o sistema de táxis na RAEM funciona mal, quando funciona! Na Malásia, apesar de também lá haver queixas, do esforço feito pelo Governo e de haver condutores que insistem em fazer ajuste directo da tarifa, o serviço é muito superior ao que temos por aqui. Desde logo, a começar logo pela qualidade dos carros e a proficiência em línguas dos condutores que, no mínimo, dominam três. Sendo as mais usuais o idioma nacional, o Bahasa Malaio, logo seguido do Inglês, que é a língua de trabalho, e do Mandarim (ou Cantonense), que é falado no seio da comunidade chinesa malaia e por muitos não etnicamente chineses.

Quem nos dera, em Macau, que ao menos falassem as duas línguas oficiais! E como sonhar ainda não paga imposto, porque não falarem também Inglês? Eu sei que sou um sonhador incurável! Mas, como não falam, pelo menos que a Direcção dos Serviços de Assuntos de Tráfego (DSAT) nos fornecesse a informação correctamente nas línguas oficiais.

Deixando os táxis de parte, e como também estive recentemente na Malásia, gostaria de aqui abordar um exemplo que serve, mais uma vez, como uma luva para Macau. Vamos em breve passar a uma nova fase do serviço de autocarros públicos com a entrada de mais uma empresa no sistema, pelo que é de todo imperioso que obriguem (todas elas) a cumprir tudo quanto está estipulado no caderno de encargos, principalmente a cláusula que diz ser obrigatório existir informação (sonora e visual) das paragens e trajectos e – também importante – que funcione, pelo menos, nas duas línguas oficiais. Actualmente isso não se verifica. Quem anda de autocarro ouve apenas informação em cantonense e mandarim, estando completamente esquecida a segunda língua oficial. A DSAT parece nada se importar, visto que a situação nunca foi rectificada, mesmo depois de muitas queixas. Dizem ser complicado! Será que é complicado só em Macau? É que noutros locais vimos e ouvimos a informação em mais do que duas línguas em simultâneo e sem qualquer problema. Será que em Macau somos menos inteligentes, ou querem fazer de nós ignorantes?

A cidade de George Town, em Penang, pode comparar-se, visto ser também Património Mundial da UNESCO. No entanto, ao contrário do nosso território, tudo funciona como deve ser e sem sobressaltos de maior (há excepções, como em todo o lado).

Deixem-me tentar explicar o sistema de funcionamento dos autocarros. Tomo por exemplo a carreira 101, que apanhei diversas vezes para me deslocar do hotel para o centro de George Town e vice-versa. É uma carreira circular, começando e terminando na central de autocarros, bem no centro da cidade. Há dois terminais, o Komtar, no centro, e o Jetty, que serve as carreiras mais distantes, funcionando ambos de forma circular. Em cada um deles há quatro linhas identificadas por números de 1 a 4, e que depois se desdobram em diversas carreiras; no meu caso, a 101 seria a primeira da linha 1, havendo também a 102, 103, 104 e 105, pelo que me apercebi. Todas elas têm trajectos diferentes, não havendo muitas sobreposições ao longo do percurso. No caso da 101, no trajecto do hotel para o centro da cidade apenas se sobrepunha à 104 em uma ou duas paragens, antes de entrar no centro histórico, onde não vi nenhum autocarro partilhar nenhuma paragem no trajecto. Isto em muito contribui para que não haja engarrafamentos e para que as pessoas não se amontoem nas paragens, visto que cada uma apenas serve uma carreira.

A tarifa é paga manualmente ao condutor (que domina os nomes dos locais da sua carreira em várias línguas e que está sempre pronto para tentar ajudar quem lhe pede informações). A cada paragem o condutor vai anunciando o nome do local, para que os passageiros saibam onde estão e onde devem sair. Muitas das vezes anuncia também o nome das atracções turísticas e edifícios governamentais na área (por exemplo, o edifício do Parlamento, que fica perto do Forte Cornwallis – o local de chegada do ingleses em Penang, – ou o edifício dos Correios, que fica perto do Church Street Pier).

No interior do autocarro há uns painéis bem claros com o trajecto da carreira em questão indicado por duas linhas rectas, uma para o trajecto de ida, outra para o de volta, referindo todos os locais das paragens. Simples e bem claro.

Em adição a este sistema de transportes públicos pagos, há duas carreiras também circulares dentro do centro histórico de George Town que são gratuitas, funcionando no mesmo esquema das normais, uma com partida e chegada à central Komtar; a outra parte e chega ao terminal Jetty, ambas com paragens fixas ao longo do percurso.

Este modus operandi permite que os turistas (mas também os residentes quem têm de ir ao centro da cidade histórica) não tenham de pagar constantemente para se deslocar entre atracções turísticas, ou entre os dois terminais onde se pode utilizar os autocarros pagos. Este serviço é da responsabilidade do Municipality of Penang e suportado pelas verbas públicas.

Porém, nem tudo é positivo. Como em tudo, os erros dos outros devem servir de exemplo para nós. No que respeita ao civismo dos cidadãos e no respeito por filas de entrada, em Penang parecem sofrer do mesmo problema que em Macau. Raramente respeitam as filas de espera para entrar nos autocarros e, quando estes param, os passageiros atropelam-se uns aos outros para entrar.

Aspectos culturais? Não! Pura e simplesmente falta de educação e sentido cívico pouco desenvolvido, pelo que tive oportunidade de ouvir de vários nativos.

Onde é que eu já ouvi isto?

NaE's kitchen A Cozinha da NaE

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