Como blog estaremos aqui para escrever as nossas opiniões, observações e para que quem nos visite deixe também as suas. Tentaremos, dentro das possibilidades, manter este local actualizado com o que vai acontecendo à nossa volta em Macau e um pouco em todo o lado...

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

O CLARIM - Semanário Católico de Macau

Cheoc Van ao abandono

RECENTEMENTE tive conhecimento que um grupo empresarial, com muita tradição no mercado da náutica de lazer, com sede em Hong Kong, mas cujo proprietário é de Macau e de uma das famílias mais proeminentes do território, tinha avançado com uma proposta para dinamizar uma estrutura que, em tempos, foi de referência junto das gentes locais. Infelizmente a resposta foi um redondo não, por parte de quem agora tem a responsabilidade de gerir essa instalação desportiva e de recreação.

Tratava-se das instalações do Clube Náutico de Cheoc Van, que agora estão sob a alçada do Instituto do Desporto e que, pelo que tenho visto, passam mais tempo fechadas do que abertas. E, das vezes que vemos alguma actividade, em nada se compara com o que se fazia antes de 20 de Dezembro de 1999.

Muitos de nós ainda se lembram das tardes passadas no Clube Náutico e dos milhares de crianças, e mesmo mais velhos, que ali aprenderam a fazer vela nos «optimist» e «laser» (que agora apodrecem debaixo de uns toldos) e dos momentos de verdadeira descontracção que se viviam nos fins de tarde na esplanada do clube a ver o pôr-do-sol. Um dos locais mais aprazíveis do território e que, devido à falta de visão do Governo, está ao abandono e completamente desaproveitado.

A proposta informal que foi feita incluía a completa recuperação da estrutura e a compra de todo o material necessário (novos barcos para ensino e material de apoio), instrutores profissionais e a promessa de trazer a Macau os mais variados eventos que se adaptassem à finalidade do local (pequenas regatas, encontros de jovens desportistas, etc). A pessoa responsável pela ideia queria apenas que o deixassem gerir o espaço de forma a dinamizá-lo, para voltar a ver crianças e jovens a velejar, como ele chegou a fazer quando era mais novo. Não tinha em mente qualquer tipo de negócio ou tirar proveito financeiro da iniciativa. Tratava-se de uma iniciativa filantrópica, tendo apenas como objectivo dinamizar o sector do desporto náutico. Sendo essa pessoa um empresário de sucesso nessa área, com a sua empresa principal representada em Hong Kong, Tailândia, Malásia, Singapura, Filipinas e na Europa, considerava retribuir à sua terra natal no que melhor sabe fazer e que vê como uma das maiores lacunas: desporto náutico para crianças e um local saudável onde os residentes possam descontrair-se, sem ter de pensar em gastar muito dinheiro. Dos responsáveis pelo desporto de Macau levou uma nega, sem qualquer outra justificação.

O Instituto do Desporto ficou com as instalações do Clube Náutico de Cheoc Van, depois de criticar a forma como o mesmo (que ainda gere a Doca do Lam Mau) estava a dinamizar aquele espaço. Pelo que é do conhecimento público, a decisão baseou-se no facto do antigo responsável não estar a organizar actividades e a não gerir o local convenientemente. Ora, depois do ID ter «pegado» no dito clube, nada melhorou, pelo que tenho presenciado.

Portanto, o que mudou na mentalidade do Governo e por que se recusam a que outros tentem dinamizar o local, quando manifestamente se vê que não existe capacidade para o fazer?

Neste momento, as instalações náuticas de Cheoc Van não organizam qualquer tipo de actividade e quem ali ainda tem as embarcações (até 20 pés de comprimento e que possam ser retiradas da água) vê-se e deseja-se para as conseguir utilizar, porque desde a passagem do famigerado tufão Hagupit (que tanta destruição espalhou pela ilha de Coloane) os serviços normais de lançar e retirar embarcações nunca mais foi retomado. Os serviços estão reduzidos ao mínimo de um segurança. Aliás, já houve roubos de material de algumas das embarcações mantidas em doca seca. E quem tinha embarcações e teve oportunidade de as mudar para o Lam Mau, não hesitou.

Quanto às outras actividades, que estiveram na génese da criação do clube naquele local durante a Administração Portuguesa, o ensino de vela e náutica de recreação estão completamente paradas, há mais de uma década! Existem para tal (também a funcionar muito mal, diga-se!) instalações na praia de Hac Sá.

Quanto ao edifício de apoio do clube (o denominado «clubhouse»), o prédio situado na encosta vizinha à doca seca continua fechado e à mercê das intempéries e do salitre do mar. Até dá pena olhar para as instalações, quando descemos a estrada de acesso à praia.

Era isto que o empresário queria dinamizar, oferecendo tudo o que fosse necessário. Não impunha qualquer condição, tendo perguntado apenas quanto teria de pagar de renda pela utilização do local e quais seriam as condições do Governo.

Não se percebe esta intransigência do Executivo, que não faz nem deixa fazer quem quer e tem capacidade. Se fosse uma pessoa sem experiência, ainda se percebia. Mas tratando-se de alguém ligado ao sector há décadas em Hong Kong...

Entristece-me ver este tipo de situações. Primeiro, por ver que há pessoas interessadas em o fazer gratuitamente; segundo, por ver que o Governo continua a insistir em fazer tudo e mais alguma coisa, acabando por não fazer nada.

Sempre ouvi, desde pequenino: «cada macaco no seu galho».

O Instituto do Desporto tem competências para coordenar superiormente as actividades desportivas, mas a gerência das instalações deste tipo, tipicamente de cariz clubístico amador e recreativo, devem ficar a cargo das pessoas que realmente se dedicam à actividade, de alma e coração. Gerir um clube de vela (ou náutico) sem saber nada do sector, é meio caminho andado para nada ser feito!

NaE's kitchen A Cozinha da NaE

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