Como blog estaremos aqui para escrever as nossas opiniões, observações e para que quem nos visite deixe também as suas. Tentaremos, dentro das possibilidades, manter este local actualizado com o que vai acontecendo à nossa volta em Macau e um pouco em todo o lado...

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Muito obrigado por esta década

SE a memória não me atraiçoa, foi a 12 de Junho de 2003 que escrevi, pela primeira vez, nas páginas d’O Clarim. Esta data fará de mim um dos colaboradores mais antigos deste semanário de língua portuguesa de Macau. O mais antigo jornal de língua portuguesa a ser publicado no Oriente, quer se queira quer não, mesmo havendo outros que por portas travessas tentem fazer com que tal não seja valorizado. Este facto é algo que me deixa muito orgulhoso mas, ao mesmo tempo, muito consciente da responsabilidade que é levar semanalmente aos leitores algo que não alinhe pelo sensacionalismo.

Uma década de colaboração contínua, maioritariamente com crónicas, onde fui retratando como podia aquilo que sentia e via em Macau e no Oriente como português, mas também algumas entrevistas que me marcaram.
Esta data não foi assinalada no respectivo mês, propositadamente, porque na altura estava já decidido que a minha colaboração no «Coisas&Loisas» iria sofrer uma pausa. Até quando, não sei! Mas será apenas uma pausa no acompanhar do dia-a-dia das vivências em Macau, porque estarei envolvido numa outra aventura que irá também aqui ser relatada nas páginas do nosso O Clarim e que espero vir a ser do agrado dos leitores.
Durante esta década, que foi também de acompanhamento do crescimento da Região Administrativa Especial de Macau, dos seus altos e baixos, fui muitas vezes acusado de ser directo, de apontar muito o dedo, de ser incompreendido e de me dedicar muito à defesa da língua portuguesa. Críticas que sempre me deixaram muito satisfeito porque, primeiro, significavam que era lido – lido mas muitas vezes incompreendido, – segundo, porque causavam incómodo e isso é para mim um sinal positivo. No entanto, não quero deixar passar esta oportunidade também para referir que foram muitas as vezes que leitores, pessoas anónimas e que não aparecem nas fotografias da sociedade, mas que são as mais importantes para mim, me escreveram com palavras bonitas, com simples agradecimentos e muitas com dicas para artigos que foram enchendo estas colunas. Foram, sem dúvida, a maior fonte de inspiração e a força motriz que me fez seguir quando havia forças que o tentavam impedir.
Quem me conhece sabe que passei por vários jornais de Macau, Tribuna de Macau, quando ainda era semanário, depois na sua versão diária (à moda de Macau, visto que só sai aos dias de semana!!!), no extinto Macau Hoje e também pela Rádio Macau. De todos guardo recordações e não tenho rancor. Fiz amigos e inimigos e outros que sorriem na minha cara, mas por trás é o que se sabe!... Pessoalmente posso afirmar que durmo descansado... Eles sabem que eu sei quem são. Mas, sinceramente, o que mais fica na minha memória são os leitores, especialmente aqueles que me vão abordando de tempos a tempos, com reparos, palavras de incentivo, ou apenas com troca de opiniões. O jornalismo é isto mesmo, chegar ao leitor e fazer com que ele venha até nós.
A minha carteira de jornalista número 4363 está, por iniciativa própria, suspensa desde que iniciei funções no Governo da RAEM porque, para mim, para ostentar a carteira profissional é preciso não estar impedido e exercer a profissão em exclusividade. Apesar de haver muitos em Macau que não entendem o que isso é. Depois acumulam funções incompatíveis. Afinal estamos em Macau onde tudo é possível!
O Clarim, desde a sua fundação, é um jornal escola, onde muito se aprende e onde, apesar de ser propriedade da Diocese de Macau, há liberdade para abordar os temas que se quer, sem estarmos preocupados com a «censura». Quando fui convidado pelo padre Albino isso foi-me assegurado e nunca senti que a sua promessa tivesse sido quebrada. Assim como, pelo que sei, não o irá ser nas décadas vindouras. Como sempre o Clarim há-de ser um dos baluartes da liberdade de expressão em Macau e um jornal onde os poderes económicos pouco influenciam. Daí a nossa liberdade de informar e de abordar temas que a outros jornais se torna complicado chegar.
Muito obrigado a todos e até breve, noutro formato.


Ilha da Montanha desapareceu

Desde sempre me opus à tradução de nomes, mudança de nomenclaturas e outros atentados às línguas. Quem me conhece, sabe que nunca concordei com o facto do Leal Senado ter passado a ser identificado como Edifício do IACM, assim como também não engoli o facto do Palácio da Praia Grande ter sido rebaptizado como Sede do Governo!!! Aliás, como eu há muitos, tanto que os nomes foram repostos em muitos documentos oficiais por ordem de Pequim.
Agora vem o director dos Serviços de Administração e Função Pública tentar impingir, a nível oficial e por ordem escrita, que a Ilha da Montanha (Wam Kam, em Cantonense, e Hengqin, em Mandarim) deixe se ser assim denominada, evocando uns regulamentos relativos à forma de romanização dos nomes chineses, prevista no artigo 18.º da «Lei sobre padrão da língua chinesa falada e escrita da República Popular da China», onde se diz que o sistema a usar será o da romanização baseado em «pinyin». Daí a Ilha da Montanha (Hengqin Dao, usando a romanização do «pinyin», mas conhecida há séculos no Sul da China pelo seu nome Cantonense, Wam Kam, romanizado pelo sistema usado em Macau para transliterações de «Chinês» para Português) se passar a chamar Ilha de Hengqin. Mas o mesmo se aplica para Pequim, que não é Beijing, e para Cantão, que não é Guangzhou, em Português.
Concordo com a necessidade de se uniformizar e de se utilizar termos iguais para as mesmas coisas mas, havendo um nome institucionalizado na língua portuguesa, não há necessidade de se proceder à romanização de qualquer outro nome. Assim sendo, porque também não mudamos Macau para Aomen?
A Ilha da Montanha é conhecida por este nome desde 1514, possivelmente nessa altura nem sequer era chamada de Hengqin, mas sim de Wam Kam, visto ser o dialecto que já se falava por estas «bandas». Portanto, antes de invocar artigos e regulamentos, as cabeças pensadoras desta terra deveriam abrir os livros de História, porque Macau, quer queiram quer não, tem a maior parte da sua história, incluindo o seu legado linguístico, ligado à língua portuguesa.

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